quinta-feira, 14 de maio de 2009

Gran Torino

Este filme é sem dúvida fantástico e muito bem conseguido. Tem história, tem boa realização, tem uma boa fotografia e está minimamente bem representado. Para além da envolvência de uma situação "racista", mostra o que é um pouco a solidão, mostra o que é apreender a viver, mostra o que é deixar e sair da sua concha e apreciar as coisas boa da vida, desde olhar para o outro mais além com todo o sentido.

É um filme que nos faz pensar, que nos desafia, que nos inquieta. Há diálogos chave, especialmente com a vizinha mais nova e com o padre. Assistimos e observamos à mudança de um homem rude e intocável, sem "sentimentos" e que tem compaixão por uma família que passa por dificuldades e tem uma atitude muito nobre na parte final do filme.

A personagem principal consegue deixar-se acolher e acolher as pessoas que estão à sua volta, tenta ajudar o rapaz a não se perder e lutar pelas suas convicções, não perdendo a sua identidade, mesmo quando todos colocavam em causa o que ele fazia e agia, porque um homem tem que ser rude e mau, mostrar que se é homem porque bebe, porque se consegue juntar a um bando, etc... às vezes também me sinto um pouco assim, revi-me um pouco no tal rapaz, pois já fui gozado, criticado pela minha identidade...

Voltando ao filme... Há medida que a fortaleza da personagem ia desmorecendo barreiras, construiu-se um afecto e amizade, respeitando abertamente o espaço, cultura e ideias. E isto para mim é importante...quando o outro dá o seu tempo e do seu espaço, deviamos agradecer pelo mesmo. Eu tento fazer sempre isto na minha vida, porque é um dom conhecer o outro e ainda é mais dom se o outro se deixar mesmo conhecer e partilhar experiências que estão ocultas a olho nú.

Há uma parte que me marca que me toca, o diálogo entre o pai e o filho mais velho e o gelo que existe, a distancia. Há uma tentativa de mudança, o filho compreende que o pai teve um acção nada normal...pois para além da situação de saúde...há uma tentativa de mudança e o não houve acolhimento da parte do filho mais velho, nem se questionou pela acção do pai. Bem como a indiferença do filho mais novo que nunca aparece...

Aconselho vivamente a verem este filme. É um filme intenso, com muitos pormenores deliciosos, isto para quem tiver disposição para ver este tipo de filmes. Faz-me recordar os meus idosos que tem tanto para dar e poucas pessoas para escutar, como é bom sentirmo-nos úteis para além, como é bom sentir que o outro nos acolhe. Para mim é muito importante sentir-me acolhido pelo o outro... muitas vezes isto não se sente ou não é transmitido o que provoca um pouco de mau estar e tristeza. Enfim... O importante é utilizarmos bem e ajustadamente o nosso tempo e é bom valorizar o tempo que os outros nos dão. É isto que vivo e penso...

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